Ontem acabei de ler DC: A NOVA FRONTEIRA, escrita e desenhada por Darwyn Cooke. O autor, com seu estilo retrô, revisita a Era de Prata da DC e faz isso maravilhosamente, criando sua própria cronologia diante de todos os eventos do universo DC e fatos históricos. E o melhor de tudo: em nenhum momento o autor perde a coerência.
A “caça às bruxas” atinge os antigos heróis que são obrigados a se retirarem, abrindo espaço, assim, para os novos heróis. A transição de Batman para a figura sombria inicial para o Batman mais acessível dos anos 70 (em dado momento, ele diz algo assim: Minha intenção é inspirar medo nos criminosos e não nas crianças), o Superman virtuoso e escoteirão, Barry Allen ainda como Flash e Hal Jordan mostrando que ser o homem mais corajoso da Terra não é simplesmente sair destroçando tudo em volta.
E apesar de tratar de temas sombrios, todo o otimismo e os valores da Era de Prata estão ali. Ao contrário das revistas de hoje (sem desmerecer a nova temática sombria e violenta dos quadrinhos), você termina de ler a saga com um sorriso no rosto e acreditando que o mundo pode ser um lugar melhor.
Foi interessante ver essa saga surgir agora, justamente quando a DC passa um momento em que toda a virtuosidade de seus heróis é posta à prova e segredos sombrios são revelados (E isso é apenas uma comparação, sem crítica subentendida. Afinal, eu também estou gostando da fase atual da DC).
A DC de Darwin Cooke é heróica em todos os sentidos da palavra. Os personagens são motivados pelo seu amor desgarrado em fazer o bem. Não há segundas intenções ocultas e não há estupro mental ou físico.
De repente, estou embaixo do chuveiro tomando banho. Já sei que o terno está pendurado no cabideiro da sala, secando o suor do dia anterior e aguardando pra ser vestido.
Após terminar o nó da gravata e me certificar de que sua ponta está batendo à altura do meu cinto, coloco a carteira no bolso, verifico se as janelas estão fechadas e saio para o trabalho. É claro que não tem nenhum assento disponível no metrô e eu tento me equilibrar, enquanto leio o volume V de Direito Civil, já pensando na contestação que eu tenho que terminar.
No escritório, cinzeiro ao lado da pilha de papéis, desempenho minha função de advogado, digitando a primeira das inúmeras petições do dia. O único alívio é o cigarro. As cinzas se acumulam. De meia em meia hora, jogo as cinzas no lixo e prossigo digitando.
Telefone toca. A cada ligação, um palavrão diferente. Faço questão de praguejar para cada ligação. E sempre um palavrão diferente. Meu vocabulário é bastante extenso neste tocante.
Saio pra almoçar. Uma refeição rápida e insípida. Sem tempo. Sem tempo. Volto a passos rápidos para o escritório. Sem tempo.
Mais uma audiência. Eu odeio audiências. Eu odeio me relacionar com outras pessoas quando o assunto é direito. Não dá pra escapar. Nunca dá.
Volto pro escritório. Assim que eu me sento atrás da mesa, o telefone toca. Um palavrão. O telefone insiste e sua campainha começa a se parecer com um grito. De repente, a campainha é um grito.
Eu acordo.
Olho em volta.
O céu continua vermelho.
As ruas continuam infestadas de zumbis comedores de carne humana.
Todos que eu conheço continuam mortos.
Eu continuo morando num bunker improvisado.
Minhas armas continuam do meu lado.
Minha 9mm continua carregada e meu machado continua afiado.